Amanhã é manha

Para mim tudo em bruto é melhor. Bem que eu gostava de ter um mão foice e um lábio faca para apertar bem a mão aos mais que tudos de muita gente e ainda assim a borbulha que me cresce no interior da pança só é culpa minha afinal. Por entre os vazos malhados de erva daninha e malmequeres secos vejo o começo de uma lide absconsa. 

Há segredinhos escutados que só mesmo ouvidos.

E pois, a revolução insinuada: 

Pois veja-se. 

O senhor recuperou das suas maleitas bem a tempo de começar outra reviravolta. Porque se há ideia que não morre é porque se regenera. E ele disse. 

Senhor- E agora quem me paga?

O turrão já o tinha visto assim antes. E não tinha interesse em vê-lo mais que tudo porque está aqui para comer um bocadinho. 

Estavam no pátio de todos que é o quintal da velha. Chegou o Outro e a Putrefia. Aos poucos aproximaram-se com olhos de amor e cansaço de ódio. 

Senhor - Vocês nunca começaram com tudo! 

Outro - mas deixamos-te aqui à guarda e tu que viste?

Ao longe o canavial começava a falar com todos e dizia:

Canavial: já ia bem uma mini! 

Ao canavial os seus braços levavam se pelo vento. Ele por si ficava ali agarrado ao ventre da terra, mijado por cães e amado acamado por ciganinhos sujos. A tarde era longa de facto e quanto mais árido era o seu mundo mais lhe via beleza de chorar. Daquela mais pura. O seco da boca era por ter há muito saído de casa sem destino. Assim vivia e assim queria viver. Pelo menos até poder.

Em suma admita-se já não havia mais nem Rato nem nada que se parecesse que agora era só nados mortos em ritmos de xanax. Se ao menos os tomassem com tinto! Ao rato esse coitado, levou-o o desejo e parece que também esse esmoreceu em praia sem peixe.

No quintal da velha havia o costume. O estojo de cal e pincel, o sachadinho ferrugento e o cheiro de mofo de gente em casa vazia. E ninguém nunca lhe pega. 

Dali ao rio eram três quilómetros que se fazem bem. E se nem se tem trabalho vai se fazer o quê? 

Outro - Vais me dizer que não te apetece pegar na limpeza que é a Marisa e soltá-lá na agua suja sem pensamentos de disciplina?

Aceitaram todos ver isso então. 

A Marisa essa tinha mais que o andar forte de desprezo, tinha a língua fedorenta de cinquenta tentativas falhadas mas mesmo por isso se fazia afiada. 

Marisa - este caminho aqui é meu!

Senhor - ora que dizes?

Outro - vamos ali às couves?

O canavial mirava de soslaio e gritou: 

- Merda de santo! Deixem-me tratar de tudo que eu sei. Só eu sei! O futuro é límpido no meu esgar e tu ciganinha, vens comigo. 

- a medo pela primeira vez perante o olhar de canas viu pela primeira vez o desastre da vida. Cedeu e deu-se.

Na praia açoriada já se viam os começos do espectáculo diferente. 

- Esta administração tem pretensões marítimas mas aqui só se faz casco de madeira local! 

Eipá, que siga a música!

- aqui montam-se estaminés de fontes suadas no acaso do tomatal. Aqui o rio não passa mais!

Era um gosto de se ver, o canavial cada vez andava mais apaixonado e até celebrou a matemática por momentos em métodos criativos... A Marisa essa recusou tudo o que se lhe dissesse e assim é que ela ficava mais linda!

O espaço era suficiente, rearranjado em divisões de cabanas de canas ao vento populadas por escriturários retornados e limpada até ao nível de hospital suíço por betinhos e forcados!

A jóia era tão mais gostosa porque até a velha pegou na cal e pintou se a si mesma rebolando-se na areia com gosto e sem receio sintomático da soda caustica.

- Ferve mas cura!

Ali mesmo deitaram todos os livros da licenciatura ao fogo para poderem passar mais tempo a esticar peles de adoufe e a cada ritmo saltava uma lufada de álcool alumiado bem vivo que pegava fogo a tudo o que era instituição!



a promoção fora apregoada com antecedência. todos compraram por metade da quantidade que desejavam e pelo dobro do preço. as vacas que haviam feito a venda resfolegaram de felicidade

- a manha é mãe. 
- amanhã é manha.

riram em catacumba de sangue ocre.
depois mudaram de corpo para baleias anfíbias, das que caminham pelas estepes e se bamboleiam nas fossas. percorreram todo o território da terra, sempre arrecadando com promoções graças ao poder do seu gigantismo, com manha 
e mérito, arriscavam por vezes, enlevadas pela sua cirúrgica praxis. 
eu pessoalmente achava tudo aquilo de um mau gosto lastimável. e lastimava-me quer aos meus amigos quer aos meus inimigos. era um activista, apesar da discrição nos métodos utilizados. más línguas diziam que era só trabalho de língua. mas as boas línguas fazem o essencial, fundam na força bruta o desejo do diamante, sem elas o vórtice não gira. dito isto, era altura de dar uma mãozinha. toca de ir na mota ao cartaxo buscar o Rato e o Senhor. Voltámos apertados mas era sempre belo ver as saias da zundapp efs a faiscar no chão da lomba. 
Evitámos bebidas e começámos a discussão. O Turrão estava atrasado e dava boleia ao Regalo.

eu - vamos começar
Rato - de certeza que nem umas minizecas?
eu - eu preferia que nã...
Senhor - ...é desta. se não é desta eu mato-nos a todos.

chega o Turrão e o Regalo.

Turrão - Desculpem, perdi uma válvula
Regalo - É mentira, despistou-se com a bola
eu - vamos fazer uma revolução ou não?
Senhor - e é se não querem que isto acabe num banho de sangue.
Turrão - mas para fazer bem feito é com banho de sangue, não é? nunca fui muito vampiro nestas 
merdas.
Senhor - estamos a falar de sangues diferentes. os cabrões connosco é sangria lenta.
Rato - podemos sempre matá-los por correspondência, com bombas e venenos.
eu - concordo.
Regalo - concordam todos? aprovado.
o Senhor ficou de ir comprar os selos mas por princípio nunca faria despesa com aquela ralé. 
tentou uma cunha nos correios, conseguiu trabalho lá, mas foi apanhado a meter uma carrada de selos aos bolsos e mais uns quantos envelopes entalados nos boxers. foi despedido e agora quer matar-nos a todos.
do que ele se esquece é que enquanto isso as baleias vão lendo nas suas poltronas fábulas de formigas rabigas como quem faz abdominais.
isto passa-lhe.

achas?

acho sim senhor.

dito isto tirei foi aquela roupa.
pus outra mais a pendant com o, com o coiso, o
a noite (franze os olhos e vem cheiro a queijo)

mas depois pôs-se a borbulhar como deve ser
tataranhos mas com o chá lá ia.

e de lá voltou com mais calma

mas depois voltou a borbulhar e ainda com mais baba

tocou no amigo e foram

- ca frio
- ...


pa'


normal

mas mito.

um senhor estudioso, robert segal, define-o abrangentemente como story. história, estória? vamos pelo mais antigo e de certa maneira mais próximo do mito que quero potenciado.

mas mito, ainda. do tamanho de si próprio, não mais pequeno. e aqui tenho de me perguntar: qual a minha real dimensão se não sei os limites do universo? sem a referência dos contornos, é-me impossível saber

o meu real tamanho.

portanto partamos da referência mais coerente possível. não me considerar gigante em absoluto por sê-lo
em relação às formigas, dada a irrelevância destas na moldagem da realidade,
mas talvez em relação a elementos mais influentes no fluxo do tempo e que simultaneamente constrinjam solidamente a minha influência neste. adversários do mesmo campeonato.
e aqui só sei do ser humano, de nós próprios face uns aos outros. claro, poderíamos alegar que o cosmos é já suficiente imenso para estabelecer contornos, diz-nos aquela coisa da colisão de partículas,
desde o big bang à divisão impossível do átomo
e que seria o cosmos nesses seus extremos de todo o justo ponto de comparação - que irrelevantes formigas somos face a este!...
mas essa comparação queima etapas. é cedo, ainda. temos de nos resolver entre nós na nossa diversidade para apontarmos para tão longe, para nos estabilizarmos numa dimensão de univocidade capaz de organizar

definitivamente a forma como nos relacionamos entre nós e com o que nos envolve*

portanto a minha real dimensão constrói-se face ao outro.
não sei se cometi algum erro de raciocínio importante, mas vou avançar sobre isto com imprudente confiança.


*a nossa própria natureza, ao nos fazer reflectir sobre a nossa real dimensão, desestabiliza-a irremediavelmente,
da mesma maneira que a gravidade não deixa ao mar ser um lago gélido,
a nossa consciência detuna-nos constantemente e a música é ainda difícil, anida que já terrivelmente bela.

portanto a busca de estórias em cada um de nós é como que um empenhamento científico na humanidade,

e cá está, não apenas a estória autobiográfica mas também toda a ficção possível, já que esta tem que ser encarada como fazendo parte da nossa dimensão, particularmente importante por estar nos extremos da

oscilação da realidade, ou seja, um filósofo tem una noção muito mais extremada que eu ou um outro gajo qualquer que não faça da cabeça grande coisa, tipo primeiro ministro ou assim - e eu mesmo assim estou

a lutar este pensamentozito. o que eu quero dizer é que tenho muitas vezes a sensação de que posso resolver o mundo com o meu pensamento, com a escrita de um livro, com um certo estalo de língua, e não

forçosamente no trabalho sobre os tais aceleradores de partículas ou nano x-actos de cortar átomos em fatias que alimentassem infinitas bocas, quero eu dizer que posso ter sorte e descobrir o segredo com

apostas no totoloto mais humildes

e a busca de estórias é caminho arrepiado ao mito. é uma apostazinha já mais atrevida, uma dupla no totobola ou coisa assim.

por isso tudo se liga assim:

quero o auto-conhecimento absoluto? esqueci-me de dizer porque é que isto era importante, isto é importante por sua vbez porque é através do auto-conhecimento que descanso no que sou e posso sê-lo em

serenidade leviatã.

portanto para chegar aí, à solução final do ser humano, solução no sentido de mistura estável até,
para chegar aí porque é aí que estou, como dizê-lo de outra maneira,
como deve ser,
para e star tudo bem,
bem?
para tudo estar! para tudo estar, e eu poder dizer sem me sentir um aldrabão do caralho À pergunta
-tá tudo?
-tá-se

para estar tudo, preciso de me conhecer até aos limites da destruição do absurdo; para me conhecer, preciso de me envolver com estórias, diria criá-las e pronto, criar vem antes de se envolver, não te podes

envolver sem criar, por isso, preciso de criar estórias; e para criar estórias, e aqui entra o degrau de exigência de pensar preferencialmente em estórias como mitos, e para isto basta apenas,

meus amigos, basta apenas, basta tão pouco,

basta acreditar.

- então preciso de fé, preciso de deus outra vez? ai a porra
- não, não, não é acreditar que alguém está a tomara responsabilidade de perceber disto tudo e de me poder explicá-lo, não, é acreditar que EU posso vir a ter a chave disso na mão, como?

acreditando.

vale ficar maluco e arranjar um manicómio que me financie ou pelo menos suporte a loucura?
, constantemente perturbado com medicamentos? é por isso que aos loucos apanhados nas redes da medicina falta a força de um einstein. e depois torna-se trágico, quase lamentável. não, não dá, temos de

arranjar maneira de viver a vida que tem de ser vivida e trabalhar na outra, na de fato de macaco do futuro

e para criar estórias com essa capacidade de me definir, tenho de fazê-las mito, mas normais.

normalizantes, ou a paz da recta no monitor de (alguns) sinais neurais

- hã? e vivo?... já agora.

então mas é vivo, mas na busca da anulação dos sinais neurais mais ranhosos, os que nitidamente dão cabo desta merda toda um bocado...

mito, ou seja, construir sobre as crateras a sua compreensão

porque na raiz tudo se pode decompor,

aí estão as linguagens que inventámos para o fazer, mas o que é engraçado é que a direcção somos nós que a escolhemos, decompor ou inflar, dividir ou reunir

o mito aumenta (a cara, como dizia o herberto helder, a morte aumenta a cara - poetas do caralho)
a ciência reduz

mas ambas as forças se movimentam e afastam do centro, do olhar galináceo

e eu gosto particularmente do mito porque escolhi estudar literatura em vez de medicina

suponho que seja essa a direcção preferencial do meu movimento,

por isso é de extrema importância trabalhar no mito.

cemetery

foi, foi. estavas cândida, os lábios entalados nos incisivos lascados do rapaz.
- agora vai, pimpino - enquanto lhe batias palminhas.
o donzel esfumou-se em vergonhas e em mausoléu, fez-me lembrar de mim próprio na sua idade.
tirei-lhe as meias de fazenda dos pés, aqueci-os com o meu bafo,
- meu homem - enquanto me fazia redemoinhos com o mindinho no cocuruto
e depois abraçámo-nos e os gatos reuniram-se à nossa volta em parlamento.
o vento soprava mais frio do que morte e os ciprestes encostavam-se uns aos outros como pardais de telhado.
ir para casa? não pode ser aqui a minha casa? o coveiro que o diga quantas vezes se apoiou na amada.

ajuda-me a escrever agora a estalactictificação escavacada dos dedos

ajuda-me em confronto, a ter um pequeno tronco de pedra
acumulado de sentido e simplesmente, realmente
cuspido, ajacteado, e do presente.
Com a mesma naturalidade de um fôlego,
e com a mesma seriedade de um berlinde.

A berra da berra berra. E frange sobrolho e fura tímpanos,
que esses são mesmo mais e mais que o todo do conjunto.
A primeira libertação seria sempre a libertação mesmo
e depois tudo o resto.

Por isso fico aqui sentadinho à espera da minha actividade.

seriousness

vaco!
do verbo vacar. cavo e vaco pelo vácuo adentro e espreito quando chego
familiares idosos acolhem-me com estrépito e castanholas, todos sem dentes. mete medo e ao mesmo tempo é confortável. aliás, a mais velhinha entala o cobertor à minha volta, mas múmia?
medo, medo, medo,
a força explode pelo corpo todo mas é o escoiceio da cabeça que cruza a meta primeiro
arrebenta a placenta
e portanto com organização, mesmo que com noites mal dormidas, chefio movimentos revolucionários mas
com que fim com que princípios? paz pão habitação
e o maior perigo vem depois e é o bocejo, o fim da vida possível com o corpo diabetizado em conforto, por exemplo, ajuda-me a escrever agora a estalactictificação escavacada dos dedos,
alguém me faça mal para eu babejar e bater e existir, esse estado extático da seriedade.

repentance

Puts the enemy target in a state of meditation, incapacitating them for up to 1 min. Any damage caused will awaken the target. Usable against Demons, Dragonkin, Giants, Humanoids and Undead.